terça-feira, setembro 14

Fenrir - V

Eventualmente a família Lowland ultrapassou o fatídico dia em que Keith perdera a cabeça. Keith admitiu todas as suas falhas, naquele momento pensou em tanta coisa, sentiu tanta confusão e fúria que não conseguiu evitar o que sucedera. Não foi fácil voltar a estabelecer contacto com Killian, apesar de ter ficado apenas umas horas fechado no escuro. O comportamento de Keith tinha deixado marcas muito profundas no seu filho. Faye demorou alguns dias até voltar a dormir com Keith, ficava sempre no sofá da sala a fazer festas no cabelo de Killian que se enroscava como um cachorro a ver televisão até adormecer. O tempo passou, mas Killian nunca esqueceu, se antes havia uma relação difícil entre pais e filho, agora havia uma tensão latente. O casal já dormia junto mas o seu filho não era o mesmo. O casal nunca mais tocou no assunto, os eventos passados permaneceram tabu, enterrados em cada um dos três. Como resultado directo da terrível noite Killian fechou-se ainda mais, agora já não interagia com os cães e não saia do seu quarto, limitava-se a olhar para a floresta pela janela.

Era de noite, quando Faye ouviu os cães latir. Levantou-se da cama e espreitou pela janela do quarto que dava para o jardim. No jardim estavam Freki e Misha num frenesim de uivos e latidos direccionados para o outro lado da cerca. “Chiu, calados…o que é que se passa?” disse Faye abrindo a janela, nesse momento Keith acordou e juntou-se a Faye. “O que é que os cães têm?” perguntou Keith. “Não sei, mas seja o que for é do lado de lá da cerca.”. O dois vestiram os seus robes e foram ao quarto de Killian para ver se este também estava acordado. Assim que abriram a porta repararam que a janela estava aberta, quando olharam para a cama encontraram-na vazia, Killian tinha saído de casa. “Oh não, o meu bebé fugiu…Keith o nosso filho fugiu”- “Calma Faye se calhar foi ter com os cães”.

Desceram as escadas rapidamente e correram em direcção ao jardim, os cães estava exaltados, desorientados, e Killian não se encontrava em nenhum lado. Preocupados telefonaram para a policia para que fosse organizada uma procura, depressa uma multidão de gente apareceu para ajudar. A noite foi passada com ânimos altos, por todo o lado ouvia-se o nome de Killian entoado como um coro de igreja desorganizado. Os Lowland abandonavam a esperança de encontrar o seu filho com vida, com as dificuldades dele era difícil sobreviver na floresta e ainda havia a hipótese de se encontrar com os lobos, temiam pelo pior. “Faye vai dormir, nós vamos continuar mas tu precisas de descansar.” Disse Keith. “A culpa é tua Keith, porque é que lhe bateste? Ele não sabe o que faz.”- “Faye não me lembres disso, achas que não me sinto mal? Tínhamos concordado não falar mais sobre isto! Estou mais que arrependido pelo que fiz e se pudesse voltar a trás eu…eu…”soluçou Keith por entre lágrimas. Faye afastou-se e correu pela floresta a dentro em desespero. Passou algumas árvores, atravessou um arbusto e subitamente parou. À sua frente estava uma figura pálida e nua, era Killian.

A lua cheia mostrava o seu corpo magro mas atlético, os seus músculos era definidos. As corridas e brincadeiras com os seus amigos esculpiram-lhe o corpo. Cara a cara com Killian estava outra figura, num primeiro olhar Faye pensou que fosse Fenrir mas era impossível pois Fenrir estava morto. Faye ficou imóvel e sem reacção, encontrara Killian e este estava acompanhado por um lobo, um lobo adulto de porte considerável. “Killian?” gritou Faye “Killian vem até mim meu filho” continuou estendendo os braços. Killian e o lobo olharam para Faye e depois começaram correr em direcção ao coração da floresta, as duas formas acabaram por ficar ocultas pela sombra lunar dos altos pinheiros e eucaliptos da floresta.

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